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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Carta

" Não! Não pense na luz! Nada murmure. Deixa-me aqui onde estou. A luz é demasiadamente fria, as sombras são mornas e tem cheiro de vinho. Não a machuco donzela! Apenas guardo-te um amor imperecível, destes que se estendem pelos verões mais escassos onde o calor consome as forças dos trabalhadores do campo. Ah! O campo! Lembra-te do campo? O canto das mulheres como um gorjeio de aves volvendo aos ninhos fartas, após mais um dia pelos céus. Lamento, não me recordo da cor dos céus...
Ainda na minha mente aquelas vozes cantam, e as componesas colhem seus frutos, alegres. Os vibratos ainda ecoam na minha cabeça.
Vem, dá-me tua mão!
Não tenha medo querida! Nada temas deste demônio que sorve das sombras a vida. Não abra vossos olhos! Tuas pedras negras me ofuscam.
Toca-me! Como a brisa beijando os pântanos... Vê como sou gélido, mas com teu toque ganho mais vida. É o amor que te dedico. Como no meu peito tão vazio, deserto, sórdido... Pode ainda haver tão formosa flor velando a beleza desse amor? Tua imagem de deusa... Deusa deste meu inferno de morte, misérias e sangue... Meus campos são cemitérios, meus rios são de sangue, minhas estrelas ameaçam cair do arco celeste... Mas tu! Na sua doçura e sensualidade ainda que angélica, salva-me deste martírio. Amo-te com desespero e agonia.Perco a lucidez! Sou a sombra por trás da porta, teu medo, tua tristeza, teu pesar, o uivo tristonho que ecoa na madrugada, sou tua paixão pelo obscuro e o nefasto. Eternamente devoto e dependente.


Pra sempre seu. "

Sem Título...


Ardei meu coração lascivo!

Nas chamas de vivaz fogo

Como se nesta dor achasse incentivo

Para a miserável vida que mingua


Consome labareda luxuriosa

Todo o sonho que vivo na sombra

Como se desta estrada pecaminosa

Dependesse meu inexistente alívio


Uma última luz na minha escuridão

Ainda insiste nesta minha intempérie

É a esperança que carrego em vão

De um dia livrar-me desta gleba


Já bem longe desta minha prisão

Pisando enfim na pátria sonhada

Ei de beijar com amor o chão

E com as lágrimas lavar a terra


By: Katrina De Salem

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Amor platônico

Ouça as notas da canção querido!
Veja como caem no abismo da melodia
Sinta como afunda este adágio
Afunda comigo nesta noite sem fim!

Uma oitava a baixo... Eu também!
Aquela estrela que o véu deixou cair
Abandonada pelo céu, expulsa do paraíso.
Como eu! Como eu...

Me escutas bem meu amor?
Será que do meio dos astros, é possível me ouvir?
Tens visto as lágrimas que chorei?
Tens ouvido o canto que entôo a ti?

Ave perdida do bando...
Cujo gorjeio ninguém mais aprecia
Pois a tristeza do mesmo incomoda
Causa medo de que a vida seja mesmo solidão.

E não é? Para mim sempre foi!
Todos os longos dias desta curta vida
Fizeram-na parecer um eterno suplício
A tortura que nunca finda! Nunca!

Enquanto eu senti-lo em mim, irei viver
Viver pelo rosto que nunca vi
Pela voz que nunca ouvi
Mas que sempre esteve comigo.

By: Katrina De Salem

Exílio

Minha prisão é de carne!
De sangue, pele e ossos
Um amontoado de células ordenadas
Neurônios e hormônios que agem por mim

Uma jaula obedecendo o padrão
E mesmo assim, não é bela!
Porque deve o cárcere do homem ser formoso?
Se ele o impede de voar!

E se eu pudesse desfaze-lo?
Dizer aos tecidos: Desfaçam-se como cinzas!
Alguém lembraria de mim?
Sou bonita o suficiente para existir?

Minha gaiola humanóide não me cabe!
A vastidão do céu azul é mais convidativa
Que compartilhar algum décimo da eternidade
Com prisioneiros débeis e tristemente corrompidos.

Tanto dura meu exílio!
Nas tardes quentes deste verão
Despenca o sol no horizonte
E sinto-me igualmente caindo, sumindo!

Delicada demais para que me sintam
Infeliz demais para sorrir novamente
Diferente... Como ninguém nunca foi.
Condenável, solitária e presa...

by: Katrina De Salem