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domingo, 20 de novembro de 2011

Escuridão


A escuridão o devora

Nas noites mais doces e claras

Pois ela desconhece a luz

Mas é perita em sua alma

Todas as entranhas e medos

Tão inutilmente escondidos

São apenas jogos, passatempos

Quando se tem a eternidade


Sopros mortais ao ouvido

Sussurros amigos, amigos?

Um último eco dilacerante

E uma perda sem fim

Que o consumirá eternamente

Como o desejo mais ardente

O vício mais enlouquecedor



by: Katrina De Salem

Flor


repousai, ó flor do campo
Sobre a relva banhada em ouro
Pelo sol do entardecer
Baile suave haste abraçada a brisa

A frente sussurra o mar
Com versos feito para o amor
A flor tão alva e tão pura
Inda está docemente a bailar

Nas notas duma harpa angélica
Navegas barquinho pequeno
Sem medo de um naufrágio
Sem farol, quer se perder

Agora que o sol foi-se embora
A flor pendida ao luar está
Afoga-se no orvalho, na música e na noite
Repousai, ó flor do campo...

Estais onde querias estar...


by: Katrina De Salem



quarta-feira, 6 de julho de 2011

Acalanto

Oh meu amor!

Não chores, não me chame com lágrimas

Não quero navegar em rios até ti

Mas pelo ar, no som de teu riso!


Toque a lua em tua dança

Deixe-se abraçar pelo vento

E contigo estarei nesse momento

Ah! Não chores meu amor... Sorria apenas!


Quando deitar tua cabeça à noite

Lembra-te que te velo de longínqua estrela

E saberás que a chama que te guia

É um pedaço de nosso lar que carregas


Não me chame em gemidos tristonhos

Não quero precisar erguer teu rosto

Chama-me com amor e carinho

Que te darei doces beijos de aurora


Quando acordar de teus sonhos saudosos

Lembra-te que te guardo comigo

E o mundo perturbado que te cerca

É angustiosa ilusão terrena


Oh meu amor!

Não chores, não me chame com lágrimas

Não quero navegar nestes rios até ti

Mas pelo ar, no som de teu riso!

Castelo de areia


Meu castelo de areia

Outra onda derrubou

Com frieza e maestria

Outro sonho fez cair


Se o sol já não me toca

E se a noite então não finda

Porque tanto anseio afinal

A doce luz da aurora?


Utopia de menina

Outro Sonho primaveril

Fantasia platônica minha

Desta vez te dou adeus.

sábado, 21 de maio de 2011

O último Ato




As folhas caíram comigo

Incapaz de me reerguer

Faço do chão meu descanso

Esperando que a noite me cubra


Meu último espetáculo trágico

Terrivelmente ensaiado

Para comover e arrancar lágrimas

De uma estrela ou duas


Minha platéia impassível

Observando minha queda

Confinada em meu castelo

Esperando que as eras me consumissem


Quem sabe alguém me descubra

Já sem cores ou sem brilho

Como uma estrela que morreu

Sem dizer Adeus, sem aviso.


By:Katrina De Salem

Apelo do monstro


Ah se o homem soubesse!

Dos infortúnios que o espreita

Buscaria nas sombras o conforto

Onde os olhos nada vêem


Ah se tu soubesses meu anjo!

Das telas que pinto com o dedo

Das cabeças que rolam no chão

Como frutos podres desprendidos pelo vento


Nada haveria no mundo de bom

Para curar-te este assombro

Nem o inferno na mais bizarra era

Te arrancaria as náuseas que viverias comigo


Vá e grite a todos:

O monstro engolidor de homens vive

Cospe seus ossos depois de sugar-lhes a carne

Faminto famigerado que tudo come, devora...


Mas volte minha doce amada!

Para mim que te espero de braços abertos

Não te importas com o sangue em meus dedos

E toma este coração negro que é teu!


By:Katrina De Salem


quinta-feira, 17 de março de 2011

Estou em casa

Olhos abertos – Oh mundo tão triste!

Fecho os olhos – Estou em casa...


O vento me toca

Nas mãos de Zéfiro sou poeira de estrelas

Voltando, Zarpando, Navegando pra casa

Despeço-me, Dou-te Adeus, vou-me embora!

Ah! Estou em casa! Estou em casa!


A lua não é mais a mesma

Os campos não são como os teus

O povo sorri e é feliz

Ah! Estou em paz comigo!


O luar me toca!

Nas mãos de minha Deusa sou uma folha

Refletindo seu brilho sutil, amoroso.

Flutuando, planando, subindo, tocando o céu!

Desço, caio, volvo a terra, Estou em casa!


A fogueira consome memórias

Para trás minhas tristes lembranças

Faíscas que sobem aos céus, Doces preces!

Minha grande família cantando, pois voltei!


O fogo me toca!

Queima o passado banhado em choro

Nas chamas de meu Deus eu renasço!

Queimando, subindo, volvendo como cinza.

Ilumino, alimento-me, apago-me, retorno!


Ah, estou em casa, estou em festa!

By: Katrina De Salem

sexta-feira, 11 de março de 2011

A carta 2

Tens visto querida? Aqueles astros vagarosos arrastando-se no espaço rumo á inexistência?

Como eles tenho vagado! No pico de agudas montanhas atiro-me nas pedras, espedaço-me, sangro, sofro e volto ao começo, inteiro. Poderias explicar-me este caso?

Como um homem pode atravessar a morte sem dela nada levar?

Os dias tem sido frios. Minhas lágrimas também... Todavia meu choro tem se esgotado. Acho que o pranto me foi tirado, mas a tristeza me acompanha nesta interminável caminhada por estes lodaçais imensuráveis. Às vezes singelas luzes brilham no céu noturno, talvez anunciando que a esperança não morreu, entretanto, surgem a seu bel prazer, e somem.

Tenho consumido meus sonhos, os últimos, para sobreviver.

Finjo o deleite de frutas frescas, risos de crianças, campos verdes, vilarejos alegres... Busco a loucura para amenizar a dureza da realidade. Nada de bom vinga deste solo venenoso, nada de belo rasga estes céus escuros, nenhum pássaro canta... Apenas ouço lamentos. Os meus.

Dói dentro de meu peito olhar o passado, o presente. Temo o futuro horrivelmente. Nenhum monstro me parece mais assombroso que este futuro. Oh! Como gostaria de implorar-lhe o aconchego do abraço, como criança que se perdeu pelas sombras do quintal e retorna ao colo da mãe queria eu retornar á ti. Ah! Mas o ódio ainda queima... Corrói-me as entranhas como letal vírus. Portanto, fica com teu mundo feliz, que ‘inda tenho que atirar-me muitas vezes destes picos... Oh meu bem, meu ódio não te toca! Não te fere! Fere-me e toca-me... Somente. E este amor enlouquecido que me conduz ao êxtase rasga-me! Como queria esquecê-lo! Tira-o de mim Deusa! Arranca-o como espinho! Tira-o! Tira-o de mim! ...


quarta-feira, 9 de março de 2011

O pagamento


Nada tenho! Brada o tolo

Remexendo-se na lama

Toda vida desgraçou

Com vícios e parvoíce


Fez os queridos chorarem

Fez dos excessos a lei

Nas noites tornou-se luxúria

Nos dias era avareza


Mas sábio é o tempo!

Que lhe tomou a beleza

Deu-lhe em troca a velhice

E um bom punhado de dores


O viril grosseiro e prepotente

Amanhã é um cão na sarjeta

Gritando: Nada tenho na vida!

Como o mais infeliz miserável


Todavia vem a morte lhe tocar

“Te enganas meu caro amigo

Ainda tens o trançado de tripas

Que te dão a imerecida vida”


As lágrimas que caem hoje

São por descuido e vulgaridade

Feliz aquele que do mundo se guarda

Pra dele não partilhar essa paga.


* Eis aqui uma carinhosa crítica aos que reclamam quando sofrem as conseqüências das próprias nefastas escolhas. :)


By:Katrina De Salem

Prece



Talvez em algum buraco negro

Engolido pelo tempo, isolado pelas sombras

Existe um anjo que outrora caiu

Aboliu primaveras e sentenciou o inverno


Os risos de verão agora são memórias

Abandonadas, jogadas, rasgadas.

O farol que rompia as trevas da noite

Como a existência perdeu o brilho


Restam murmúrios sorrateiros

Que o ferem como golpes vindos do nada

Um lamento sem fim de alguém

Será eu ou você?


Sejam minhas lágrimas um bálsamo

A tocar tuas pungentes feridas

Seja tua dor um pouco minha

Para que estejas mais uma vez comigo


A escuridão que te cobre como inviolável véu

A luz um dia há de rasgar!

E o anjo que outrora livre voava

Poderá novamente pelo ar navegar


Perdão se meu amor não o amparou

Se por decreto precisei partir

Mesmo que outra estrela seja tua morada

Nem ela me afasta de ti.

By: Katrina De Salem

Para alguém de muito, muito longe.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Exilados de Capela*



Houve um tempo em que sonhei

Que o inverno era brando

Como a voz que me guia na madrugada

Como a estrela que outrora vislumbrei


Algo em mim está perdido no espaço

Entre astros e galáxias vaga sem rumo

Uma saudade sem fim que dorme

Mas sonâmbula caminha em mim


Existe um fantasma debaixo da cama

Que me conta coisas de um passado

Eras remotas numa terra onírica

Onde a felicidade era coisa simples


Mas vá embora, sombra que descansa!

Deixa-me aqui na escuridão!

Neste mundo meu não há luz

Muito menos sabores como os que narra


Enquanto arrasto minhas frias correntes

Perco os pensamentos entre estrelas

Exilada, distante, sozinha...

Uma alma que se perdeu de seu bando.


By: Katrina De Salem

*(Os) Exilados de Capela - Livro espiritualista de Edgard Armond